Sonhos do Cacau

Teoria dos Sonhos
De acordo com Sigmund Schlomo Freud (1856-1939), os sonhos são lembranças e reais desejos guardados na sua sub-consciência que revelam-se durante o sono, consciente em seu total domínio sobre o seu pensamento - quando estamos acordados, é quem impede essas imagens de mostrarem essa realidade oculta no sub-consciente.
Carl Gustav Jung (1875-1961) alega que os sonhos possuem um papel mais abrangente, que não seriam apenas reveladores de desejos ocultos, mas sim, uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Jung aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de individualização através da averiguação das posições que o protagonista no sonho (ego) toma diante dos desafios propostos.
Muito embora Freud afirma que as situações absurdas presente em sonhos arquetípicos, Jung diz que essa é a forma própria do sub-consciente de se expressar.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Trio de Detetives

O sonho começou com uma matéria do Jornal Nacional, nas vozes de William Bonner e Fátima Bernardes: "Foi realizado um transplante de coração num gato, porém foi usado o coração de um rotweiler. O cachorro foi encontrado já morto na rua. Sabe-se que ele foi morto sem ter sido usado nenhum tipo de droga. Mesmo assim, colocaram o coração do cão no felino por não terem encontrado algum gato que pudesse doar o coração." Este era o piloto da notícia.

O câmera e o repórter estavam finalizando a matéria quando encontraram dois motoqueiros de preto cujas motos possuíam uma cesta com saco de lixo nas garupas. Achando estranha a moto, eles foram perguntar o porquê de elas terem sido alteradas. No meio da conversa, o repórter descobre que eles tinham coração de gato em promoção! Sem pensar duas vezes, comprou-o dos traficantes e agradeceu. Mas claro que o tico e o teco do repórter, ao mesmo tempo, estavam raciocinando. "Como é que os caras tinham coração de gato neste exato momento? Não pode ser uma coincidência." Como bom jornalista, seguiu-os até escurecer a fim de descobrir o negócio deles.

As motos entraram na garagem de uma casa. O repórter e o câmera param o carro um pouco antes da garagem. Conseguem pular a mureta e entram no jardim que estava cheio de mosquito, quase um enxame, saindo de uma janela lá perto. Ela era um pouco mais alta, então o repórter deu um pézinho pro câmera subir e alcançá-la. A imagem obtida pela câmera foi de um corpo todo destroçado e apodrecido, estava quase azul de tanta podridão, sem contar o aroma de carne fora da geladeira depois de uma semana. Logo que o câmera desceu com a super filmadora, os motoqueiros os capturaram e os levaram para um outro quarto do qual eles nunca mais saíram no período do sonho.

Após o final dessa matéria com esse terrível sequestro, eis que entram em ação o trio de detetives: Guilherme (pseudônimo)  é um rapaz não tão alto e seria o responsável pela infiltração no prédio e a espionagem; Luis (pseudônimo) é um senhor de óculos e cabelo grisalho super simpático e seria o cérebro que analisaria os melhores métodos; Cacau seria o último integrante e também quem cuidaria do cumprimento da missão caso fosse necessário o uso de força bruta.

Bolados os planos e preparado todo o equipamento necessário, fomos para o destino desejado. Invadimos a casa da mesma maneira que os jornalistas raptados com muita cautela, tanta cautela que avistamos um dos motoqueiros de costas. Com classe e habilidade, Guilherme chega por trás dele e põe um pano com clorofórmio no rosto. Meia missão cumprida! Um deles já estava desmaiado no chão! Até que foi fácil para mim e pro Luis. Valeu, Guilherme.

Continuando a infiltração na casa para terminar logo a missão, nos surge uma figura: uma menina pálida de cabelos negros e longos cobrindo o rosto. Sim, seria uma Samarazinha. Mas depois ela mostrou o rosto e era uma criancinha de 9 ou 10 anos simpática, muito embora a situação dela a não fosse. Ela nos conta que precisava ter o coração transplantado porque colocaram o de um cachorro nele que estava funcionando tão bem quanto uma bexiga de criança (cadê esse fornecedor calhorda e esse cirurgião incompetente para eu dar uma lição neles?). Ok, garotinha, nós faremos o possível por você.

Depois de confirmamos o pedido dela, o outro motoqueiro nos vê e vem para cima de nós com um fio elétrico sem proteção e dá um choque certeiro no Guilherme. A corrente era tão intensa que ele caiu no mesmo instante. Luis fica louco de verdade e começa a socar e a chutar o nada. Até eu fiquei com vontade de dar um choquezinho nele para ver se ele voltava à realidade, mas o assassino o fez e Luis caiu ao lado de Guilherme. Já estava 2x0. Agora tinha que ser o gol fora de casa que nos daria a vitória. Quando eu pensei em vingá-los, inicia-se uma sonoplastia de tiro muito bem feita e em altíssimo volume. Ou seja, um monte de tiro que eu não distingui nem de onde vieram e nem para onde foram. Esse barulho atordoante me desconcentrou e deu a deixa para o traficante remanescente dar o choque em mim. Para a minha sorte, ele não deu com tanta eficiência e ainda continuei acordado e "me fingi de morto" e caí ao lado de meus parceiros. O assassino, pensando que ganhou o campeonato por 3x0, não se tocou que foi gol anulado e deu meia-volta. Virando de costas para mim, eu levanto e com agilidade eu tomo o fio desprotegido de sua mão e  foi a minha vez de dar um choque. E não é que o canalha nem sentiu cócegas? Acho que pelo menos as cócegas ele sentiu porque ele começou a rir da minha cara, pegou o fio de volta para me dar o segundo golpe elétrico.

Para o meu alívio, neste exato instante surge da escuridão uma voz feminina berrando para que parássemos. Nos aparece uma moça bonita que tinha dois corações e que poderíamos pegar um deles para a menina. Obedientemente, paramos tudo e fizemos o transplante de um deles para a garotinha. Isso dispensa detalhes...

Salvamos a vida de uma criança! Trouxe alegria a todos naquele momento. Foi um final contente, não muito feliz. Como gratidão, o motoqueiro que me ajudou na cirurgia mostrou seu rosto. Diego (pseudônimo). Toda a mutreta criada foi esquecida e nós todos começamos a nos dar bem, tão bem que tiramos uma foto de nós sete sorrindo ao lado dos corpos do repórter e do câmera. Por isso que eu digo que o final foi, apenas, contente.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Estupefata Pescaria

Esse sonho eu o tive em 2002, quando eu estava no auge dos meus 12 anos. O sonho foi tão estupefato mesmo que eu nunca vou me esquecer dele.

Eu estava em casa num pacato dia de férias escolares, o tempo estava chuvoso. Toca a campainha logo cedo e eu tive de sair da cama para atendê-la. "Entrega do SEDEX!". Olhei pelo olho mágico e vi o carteiro com as cores da POLI: azul e amarelo. "Encomenda para o Sr. Lucas. Ele estaria em casa, garoto?" - Sou eu mesmo. "Desculpa então. Tem um envelope dentro desta caixa, o remetente anônimo mandou avisar. Assine aqui, por favor.". Feito. O carteiro ficou para me ver abrir o pacote grande e comprido. Era uma vara de pescar dourada com um anzol todo estilizado, parecia uma jóia. Depois de admirá-la por um bom tempo, o carteiro me lembrou da mensagem. Nela estava escrito: "Pesque os sete animais sagrados. Você saberá onde eles estão.". Tá bom então, com esse recado sucinto, parti de pijama mesmo.

Lá fui eu para a grande jornada. Logo fechei a porta de casa e dei dois passos até me dar conta de que eu não fazia idéia aonde eu iria pescar. Foi então que eu ouvi um rugido muito próximo de mim, mas eu não avistava a fera. No terceiro rugido, eu consegui reconhecer que o rugido vinha do bueiro logo ali. Não pensei duas vezes: atirei o anzol esgoto abaixo. O bicho fazia uma força desgraçada mas, depois de uma briga boa, consegui puxar um tigre do bueiro. Arregalei os olhos! Não é todo dia que se encontra um tigre no esgoto. Apesar de sair de um lugar imundo e repugnante, aquele tigre só podia ser sagrado, e a vara mais ainda para aguentar um bicho daquele tamanho. Na hora eu nem pensei numa criancinha de 12 anos com força descomunal. Quando o animal deixou aquele ambiente desagradável por completo, ele veio a falecer, coitado. Enfim, um tinha ido. Faltavam seis.

Hoje eu já não me lembro de todos o animais e nem de todos os locais, mas eram tão inusitados quanto. Me lembro de que pesquei um urso num riacho perto do laranjal do MAB (Mocidade da Ação Bíblica); um búfalo no laguinho do quiosque do MAB; um javali no lago do sítio em Atibaia. Infelizmente e felizmente, todos os animais vinham a falecer logo que saíam da água (claro, não queria um feroz urso desse tamanho correndo atrás de mim para me matar). Era como se fosse um ritual cumprido sete vezes seguidas.mas o animal sagrado final eu me lembro.

O sonho foi um tanto corrido. Tinha pescado seis animais de grande porte em lugares distantes um do outro e o céu ainda estava claro no Rio de Janeiro. Ainda de pijama, eu subi correndo uma gigante escada em espiral que construíram no Pão de Açúcar, junto com uma ponte que ligava os dois morros. Havia uma galera do meu colégio da 5a série, o Magno, me motivanto: Vai, Cacau! Falta um só! Todos subiram correndo comigo. A escada dava na compridíssima ponte, excessivamente alto estava um dos ícones da capital carioca, o sol estava forte, tudo isso para fazer aquela pressão do último chefão. Como a vara era sagrada, o fio conseguiu alcançar o mar (sim, havia mar entre os dois montes do Pão) que estava a centenas de metros de altura. O anzol fez aquele barulhinho único ao entrar na água, glup. Todos ficaram quietos; só se ouvia o vento e gaivotas, aquela perfeita "trilha" sonora de pescaria de filme americano. Eis que acontece o famoso oxímoro vivenciado pelos melhores pescadores: como se é esperado em qualquer boa pescaria, inesperadamente a vara é puxada bruscamente. Ainda continua aquele silêncio que apenas me deixava mais tenso com a situação. Imaginem só: uma missão um tanto exótica e, definitivamente, estupefata, com a caça de animais gigantes e ferozes feita por um menininho, que inclusive se dizia sagrada, estava para ser cumprida.

A força do último animal sagrado era maior do que a dos outros seis somados, acreditem se quiser. Foi muito difícil eu não ter sido puxado por ele. Além da força contrária a mim, ele se locomovia para a direita e para a esquerda rapidamente também. Acompanhá-lo estava complicadíssimo. Foi então que eu o puxei com todas as minhas forças um mero camarão. Esse sim era o mais sagrado de todos. Como é que um camarão pode ser mais forte de que um urso apenas? O ser conseguiu me dar mais trabalho que um tigre, um búfalo, um urso, um javali e mais dois grandes mamíferos.

"Ae, Cacau! Uhul! Você conseguiu!". A galera do Magno comemorava por mim que estava exaustíssimo por ter pescado um camarão com uma super vara de pescar e ainda de pijama. Tão exausto que eu não me aguentei em pé e caí da ponte. A queda foi muito longa e dramática. Mais uma vez, a "trilha" sonora foi bem feita: somente se ouvia o barulho do vento durante a queda e, quando eu caí na água, só consegui ouvir as bolhas que fiz ao entrar. Na minha frente surge, nada mais, nada menos, que um tubarão. Quando ele parte para cima de mim e me abocanha, eu acordo com as pernas dormentes por causa da "queda".