Era um dia qualquer para vaguear por aí com dois ex-colegas
e amigos da faculdade. Eles só estudavam e eu estava matando horário do
trabalho, dizendo que tinha ido pra obra mas tinha ido passear de carro com os
moleques. Os dois tomaram a direção, sentados nos bancos dianteiros do
automóvel e eu estava sentado no banco traseiro com uma loira bem bonita. A
ideia era chegar a um condomínio residencial para eu conhecer um terreno e
averiguar a possibilidade de levantar um empreendimento.
No percurso, eu fui fazendo amizade com a outra passageira
que iria parar no meio do caminho para ir para a aula na faculdade dela.
Contudo, o percurso era longo e ela se acomodou, deitou no banco com as pernas
no meu colo. Neste instante, o mundo escureceu e a minha aliança reluziu e eu
comentei: “Moça, eu não iria gostar se eu visse a minha esposa numa situação
parecida com essa. Tem como você se levantar, por favor, por respeito a ela?”.
Ela levantou na mesma hora, mas até agora eu não sei se foi porque eu pedi ou
porque já tínhamos chegado ao seu destino, e partiu. E nós também.
Enquanto o carro acelerava, os malandros do banco da frente
comentavam entre si frases como “Cara, que delícia!”, “Perdeu essa, Cacau!” e
“Podia ao menos ter passado o jogo pra mim, né?”. Passados alguns quilômetros,
a avenida tinha se tornado em uma ruazinha com mais grama do que terra bem na
beira de um morro, com direito a vários brinquedos de criança jogados bem no
meio do caminho que tínhamos que seguir em diante. Desta forma, eu saí do carro
e retirei um pianinho de cauda cor-de-rosa, um zoológico de Lego, um cavalinho
branco de balanço e até um triciclo enferrujado.
Após ter retirado os obstáculos, pudemos prosseguir e,
naquela tarde ensolarada, chegamos ao nosso destino, o condomínio que tinha uma
das portarias mais bonitas que eu já tinha visto com meus próprios olhos! Assim
que o porteiro nos liberou, avistei várias casas enormes, com três andares e
esquadrias douradas, de padrão altíssimo. O sol brilhava de um jeito extraordinário
naquele lugar, e o terreno no qual eu estava interessado, para a minha
surpresa, não ficava tão longe da portaria. Contudo, a área dele era metade da
área de seus vizinhos. Mesmo assim, fiquei empolgado para fazer um projeto que
surpreenderia pelo menos o dobro do que as outras casas tinham me impressionado.
Durante o conhecimento do terreno, avistamos uma colega
nossa, de cabelo escuro, que, aparentemente, era moradora do condomínio. Ela
surgiu sorridente, de vestido e alegre com a presença de nós três. Nos
cumprimentou com sua simpatia natural e acompanhou o nosso estudo visual do
terreno. Ela ficou ali, assistindo e comentando.
Foi-se entardecendo e escurecendo repentinamente, e os
meninos sumiram no crepúsculo. Ficamos apenas eu e a morena, sem direito a
iluminação artificial obrigatória de um condomínio residencial. Subitamente,
ela alterou o seu rosto e disse: “Cacau, olhe o que você está perdendo.” Logo
em seguida, ela saiu correndo para o quintal de uma casa vizinha, mergulhou de
bruços na grama e começou a se esfregar no chão. Quando eu me aproximei para
ver se estava tudo bem, notei que um rapaz brotou da terra e eles estavam se
beijando deitados. Eis que após eu ter avistado esta cena horrorosa, vários
outros “zumbis” de ambos os sexos escavavam para fora da terra e começavam a se
beijar e a se acariciar.
Enquanto a suruba rolava solta no quintal, a minha colega
virou pra mim nervosa e indagou: “Vem curtir só um pouquinho! Sua esposa nunca
vai saber que isso aconteceu! Vem, eu quero você!”. Minha resposta: “Mas eu amo
a minha esposa, e só quero ela para mim.”. A réplica dela: “Eu não tô nem aí,
eu quero você. Venha me curtir!”. Minha tréplica: “Não posso, eu me entregu...”
Não pude nem completar a frase. O sol raiou como se fosse
meio-dia e a morena ficou irada comigo! Exaltada, exclamou: “Como você pode
dizer que se entregou por ela? Só porque é algo que Jesus fez por você não quer
dizer que você tenha que fazer isso por alguém! Ela nunca iria nem desconfiar,
seu frouxo! Idiota!”. Enquanto ela continuava a me xingar e a balbuciar, ela e
os outros zumbis se desfaziam que nem areia sendo levada pelo vento.
Assim que todos se desmancharam, eu me deparo sentado na
mesa do escritório de casa, com uma iluminação de aurora, diante de uma bíblia
aberta sobre essa mesa. Então escuto uma respiração suave e tranquila na porta
da entrada da casa. Ao me levantar da cadeira para me dirigir para a porta, eu
acordei na vida real e me deparei com a dona desta respiração: minha linda
esposa dormindo tranquilamente com o rosto virado para mim.
E foi assim que comecei meu dia, sabendo que somente com a fé
é que é possível agradar a Deus e que o que faz o casamento durar é basear a
sua história de amor na história de Amor de Cristo e a Igreja.